A cidade de Taubaté é, talvez, a que tenha um movimento mais sólido e pró-ativo em relação a luta pelos direitos dos animais. Para mostrar um pouco sobre o que acontece por essas bandas, o cartuntivismo entrevistou Ivan Cleiton, participante ativo dos coletivos Food for Vegan e Good Day. Confiram!
1- Primeiramente, fale um pouco de si, formação, área de atuação, como conheceu o veganismo.
Olá, me chamo Ivan Cleiton, tenho 20 anos e sou vegano desde 2006. Não tenho formação acadêmica e nem pretendo tê-la. Acredito que o verdadeiro conhecimento esta em tudo que nos cerca, seja nossas amizades, nossas experiências, ou até mesmo dentro de nós mesmo. Só cabe a nós sabermos utilizar os instrumentos que tem a nosso favor e formarmos nosso próprio caráter.
Atualmente eu trabalho em um estúdio de tatuagem, mas sou cozinheiro autodidata, logo quero começar a trabalhar com isso e colocar projetos a funcionar para levar o veganismo cada vez mais adiante, levá-lo cada vez mais longe.
Eu conheci o veganismo cerca de 4 anos atrás quando li o livro Libertação Animal do filósofo australiano Peter Singer e desde então parei de comer carne. Após alguns meses tive a oportunidade de ir a uma Verdurada em São Paulo. Neste evento foi exibido o documentário Terráqueos e posteriormente a isso não consegui mais me alimentar e nem utilizar nenhum produto que contasse com exploração animal. Mas no começo foi muito complicado, principalmente na parte de alimentação, por não saber preparar alimentos veganos. A partir disso que surgiu a necessidade de começar a preparar meu próprio alimento. E desde então não parei mais de cozinhar.
2- Como Surgiu a idéia do Good Day? É realizado algum projeto paralelo a ele?
O evento de hardcore Good Day surgiu da união de dois grupos de libertação animal, o Food For Vegan e a Vegan Life. Ambos os grupos sentiam falta de eventos que nos agradassem em 100%. Com essa necessidade que surgiu o Good Day com a proposta de proporcionar um dia agradável, literalmente, para o publico poder se conscientizar mais sobre a questão animal, estar em contato com vários meios de comunicações independente, como fanzines e intervenções artísticas, curtir uma boa musica, e além de tudo, consumir um bom alimento vegano. O Good Day também vem para tentar fortificar mais o hardcore do Vale do Paraíba, transformar o hardcore numa grande comunidade sem preconceitos com os outros. Quando eu me envolvi com o hardcore a uns 4 anos atrás, isso foi o que mais me agradou, o fato de você poder colar no role e ser sempre bem aceito independente do modo de se vestir ou qualquer que fosse sua característica. E aqui no Vale as coisas nunca foram muito desse jeito dentro do hardcore, e o Good Day vem tentando fazer com que não exista preconceito dentro do mesmo, fazendo com que ele seja o ultimo lugar em que se encontre esse tipo de atitude.
E além da organização do Good Day, também participo do grupo Food For Vegan, mas que atualmente esta um pouco “parado”.
3- Fale um pouco sobre o cenário pro-libertação animal da cidade de Taubaté especificamente e da região do Vale do Paraíba.
O movimento em Taubaté é muito forte. Existem muitas pessoas comprometidas em expandir ainda mais o veganismo. E por ter um publico vegetariano muito grande sempre acontecem eventos com esse principio, seja distribuindo informativos ou até mesmo tendo exibições de vídeos sobre o tema. Por exemplo, há algumas semanas o Ação Ativista, grupo que tenta conscientizar sobre os impactos ambientais causados pela indústria da carne, em parceria com a ONG GECA, promoveu um debate sobre alimentação consciente em que foi exibido o documentário A Carne é Fraca e também contou com uma mesa redonda debatendo sobre os impactos ambientais causados pela industria alimentícia, além de uns bons quitutes veganos. Além de eventos como esse, que vem acontecendo com cada vez mais freqüência na cidade, também acontece vários outros eventos, como o Veganik que acontece todo primeiro domingo do mês no horto municipal de Taubaté às 14 horas, o almoço Freegan que acontece todo ultimo domingo do mês. Também tem o grupo Vegan Life que sempre vende lanches e propaga o veganismo em todos os tipos de eventos, e vários outros ativistas pela cidade que fazem as coisas acontecerem.
Já no Vale do Paraíba em geral conheço muita pouca coisa. Talvez isso seja reflexo de um pouco de desunião entre os ativistas do vale e tomemos isso como ponto de partida para agregarmos mais as pessoas interessadas em promover o veganismo. Porque com uma cena unida conseguimos erguer as nossas vozes ainda mais para lutarmos em favor daqueles que não tem voz para se defender.
4- O que é o veganismo para você?
O veganismo é demonstração maior de coerência e ética em relação a todas as entidades vivas do planeta.
5- Você sente algum tipo de atrito entre vegetarianos e veganos na região?
Não, não sinto. Independente de a pessoa ser vegetariana ou vegana, sempre o que se leva em consideração é o respeito pelos animais e só pelo fato de parar de comer carne já se demonstra esse respeito. As pessoas têm que parar de ser tão intolerantes e começar a enxergar as diferenças com outros olhos. Eu mesmo quando me tornei vegano sofri muito por não saber cozinhar e conseqüentemente passei muitos apuros com a alimentação. Mas a base pra mudança esta sempre na informação e na pratica. Com o tempo as pessoas vão praticando e conhecendo cada vez mais fatores que facilitam essa transição do vegetarianismo para o veganismo, mas essa diferença não deve ser motivo de atrito.
6- Que benefícios você ressalta do processo 'deixar de comer carne' e o 'deixar de comer qualquer alimento de origem animal'?
Pra ser bem sincero, esse processo de transição é muito simples. Hoje em dia se encontra alimentos sem origem animal em qualquer supermercado, basta se informar e saber procurar. Onde as pessoas geralmente se esbarram nesse processo é na hora de conseguir preparar alguns tipos de pratos. Geralmente, elas não sabem que tem como preparar basicamente tudo sem usar nada de origem animal e é nessa hora que a pessoa tem que buscar informação e começar a aprender a preparar seu próprio alimento. Isso beneficia muito a pessoa, por seu alimento ficar mais puro e até mesmo mais prazeroso de se comer. Além de que saber que não esta contribuindo para todo o sofrimento animal, isso dá uma satisfação imensa. Uma paz interior literalmente. Não tem como se sentir bem consigo mesmo sendo que a fonte de sua força vital se baseia em sofrimento. Mas quando se alimenta de um alimento livre de dor, não tem nada que pague isso.
7- Como você ajuda a propagar a filosofia vegana?
Eu tento sempre fazer as pessoas refletirem sobre seus atos e tentar chegar à conclusão mais sensata e coerente, e assim simplesmente pelo fato de eu ter tornado vegano já é uma ajuda sem tamanho para levar essa filosofia para frente. Pois no seu próprio dia-a-dia vegano, conseqüentemente, você proporciona essa reflexão nas pessoas. Por exemplo, quando se fala para uma pessoa que não você não consome nenhum alimento de origem animal e explica todos os seus motivos, você está passando uma informação para a pessoa fazendo-a refletir sobre o tema. Por mais que as pessoas vêem isso de uma forma muito superficial, já é um contato valido. Além disso, também participo de várias ações, como intervenções urbanas (colagem de lambe-lambe e sticker), panfletagens, venda de alimento vegano em diversos eventos, etc. Tudo com o principal intuito que é levar um pouco mais de consciência para as pessoas.
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