Matéria Jornal da Tarde por Giuliana Reginatto (15/02/09)
Enquanto especialistas em nutrição apontam o elevado potencial do leite no desenvolvimento de alergias, reumatologistas defendem que seu consumo no País é três vezes menor do que a porção indicada pela OMS. No meio do embate científico, ambientalistas discutem o lado ético da questão: exploração das vacas leiteiras.
A classe dos mamíferos, os animais mais evoluídos da natureza segundo a biologia, tem mais de 6 mil grupos. E só um deles consome leite de uma espécie diferente da sua na fase adulta: o ser humano. A constatação fundamenta a Campanha pelo Desaleitamento Adulto, promovida pela ONG Instituto Nina Rosa ao longo dos últimos quatro meses. No panfleto usado para divulgar o trabalho da instituição uma vaquinha indignada, desenhada pela cartunista Magô Pool, questiona: “Se sua mãe, que te ama tanto, não te dá leite por que eu, que não tenho nada a ver com isso, tenho que dar?”
O bom humor da campanha não apaga a seriedade da questão sobre a qual ela propõe reflexões: a exploração das vacas leiteiras, submetidas a gestações contínuas, de acordo com os ambientalistas, para atender a demanda por leite (leia mais no box ao lado). O aspecto ético que envolve o tema é tão polêmico quanto o fundamento científico que o cerca. Se de um lado os reumatologistas criticam o baixo consumo de laticínios, de outro especialistas em nutrição enfatizam o potencial alergênico desses alimentos - acusados de estimular o desenvolvimento de várias doenças.
Mestre em nutrição clínica funcional pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), Daniela Jobst defende que o consumo de leite e de seus derivados está relacionado à constipação intestinal crônica. “Fiz um estudo sobre essa relação com 180 pacientes. Quando eles cortaram os laticínios da dieta houve uma melhora de 40% nos casos de constipação”, relata. “Quando se fala em alergias desencadeadas pelo leite as pessoas pensam apenas na intolerância à lactose, que é imediata, mas desconhecem as alergias tardias, representadas por estufamento abdominal, gases e obesidade”, completa.
Na avaliação de Daniela, a dieta humana prescinde só do leite materno. “Crianças são as mais prejudicadas pelo superconsumo de laticínios, são as mais suscetíveis a alergias respiratórias e dermatites”, diz. Segundo a nutricionista, o leite participa desse processo por ter um caráter mucogênico, ou seja: favorece a secreção de muco, que propicia a proliferação de germes. “Nos casos de celulite, por exemplo, que é um processo inflamatório, o papel agravante do leite é claro. Ele também interfere nos quadros de diabete do tipo I, por apresentar alto índice glicêmico.”
Daniela enfatiza que o ser humano não possui algumas enzimas digestivas necessárias para processar o leite adequadamente. “Digerir determinadas proteínas do leite é um processo que exige muito da flora intestinal. Temos a enzima lactase, mas é uma lactase humana e não bovina. No caso do iogurte esse procedimento é um pouco menos complicado, sua digestão exige menos do intestino por ser um alimento fermentado. Uma forma de minimizar a situação é consumir laticínios em dias alternados, no máximo três vezes por semana.”
Os argumentos contrários à ingestão de laticínios esbarram no fato de esses alimentos apresentarem elevada concentração de cálcio, elemento fundamental da nutrição saudável. “Não resolve comer um alimento rico em cálcio, é preciso que esse nutriente esteja biodisponível. Ingerir não é a mesma coisa que digerir e absorver. No caso do leite e de seus derivados a absorção de cálcio varia de 30% a 40%, índice que pode chegar a 90% para o tofu. O gergelim também é excelente fonte de cálcio, assim como o feijão”, diz a nutricionista.
Além de consumir alimentos ricos em cálcio é preciso, de acordo com Daniela, controlar as perdas do nutriente pelo corpo. “Uma alimentação desequilibrada, rica em gordura e açúcares, com excesso de carne e comida industrializada, torna ácido o PH do sangue, demandando cálcio do organismo para equilibrar a acidez. O cálcio age no sistema de tamponamento, promovendo justamente o equilíbrio do PH do sangue.”
Doutor em reumatologia pela Unifesp, o médico Marcelo Pinheiro discorda da restrição ao leite proposta por alguns profissionais da saúde. “A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda ingerir 1.200 miligramas por dia de lácteos, o que equivale a cinco porções. Cada porção corresponde, por exemplo, a um copo de leite ou a um iogurte. No Brasil o consumo é muito baixo, cerca de um terço do ideal, o que nos preocupa muito porque esses alimentos são as melhores fontes de cálcio da alimentação”, avalia o médico.
Pinheiro explica que cálcio participa ativamente da formação do tecido ósseo, sendo imprescindível na infância e adolescência. “Quando não se forma esse reservatório de cálcio na juventude, uma poupança que será usada em idades mais avançadas, há mais chances de passar por algumas doenças na fase adulta, principalmente osteoporose”, avalia o médico. Ele chegou a essa conclusão após conduzir um estudo sobre osteoporose com 2.400 pessoas, recrutadas nas cinco regiões do País.
“Constatei que cerca de 15 % dos voluntários já sofreu fratura por osteoporose, o índice é alto se considerarmos que a incidência de diabete, tão comum, é de 8% no País. O pior é que as pessoas não estão preocupadas com a fragilidade dos ossos”, detalha Pinheiro. “Muito se fala sobre alergias provocadas pelo leite, mas a intolerância à lactose, por exemplo, gira em torno de 30%. O restante da população poderia se beneficiar do leite. Para casos de obesidade, recomenda-se o tipo desnatado, que tem ainda mais cálcio que o integral.”
Com base em sua investigação sobre os fatores de risco relacionados à osteoporose, Pinheiro destaca as mulheres como grupo mais suscetível. “A proporção é de três mulheres acometidas pela fratura de osteoporose para cada homem. Elas precisam ter mais cuidado no período pós-menopausa, em que a destruição óssea é comum”, diz. Segundo ele, grávidas e lactantes devem estar especialmente atentas ao consumo de laticínios. “Nessa fase, o consumo diário deve chegar a 1.500 miligramas”, indica.
O bom humor da campanha não apaga a seriedade da questão sobre a qual ela propõe reflexões: a exploração das vacas leiteiras, submetidas a gestações contínuas, de acordo com os ambientalistas, para atender a demanda por leite (leia mais no box ao lado). O aspecto ético que envolve o tema é tão polêmico quanto o fundamento científico que o cerca. Se de um lado os reumatologistas criticam o baixo consumo de laticínios, de outro especialistas em nutrição enfatizam o potencial alergênico desses alimentos - acusados de estimular o desenvolvimento de várias doenças.
Mestre em nutrição clínica funcional pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), Daniela Jobst defende que o consumo de leite e de seus derivados está relacionado à constipação intestinal crônica. “Fiz um estudo sobre essa relação com 180 pacientes. Quando eles cortaram os laticínios da dieta houve uma melhora de 40% nos casos de constipação”, relata. “Quando se fala em alergias desencadeadas pelo leite as pessoas pensam apenas na intolerância à lactose, que é imediata, mas desconhecem as alergias tardias, representadas por estufamento abdominal, gases e obesidade”, completa.
Na avaliação de Daniela, a dieta humana prescinde só do leite materno. “Crianças são as mais prejudicadas pelo superconsumo de laticínios, são as mais suscetíveis a alergias respiratórias e dermatites”, diz. Segundo a nutricionista, o leite participa desse processo por ter um caráter mucogênico, ou seja: favorece a secreção de muco, que propicia a proliferação de germes. “Nos casos de celulite, por exemplo, que é um processo inflamatório, o papel agravante do leite é claro. Ele também interfere nos quadros de diabete do tipo I, por apresentar alto índice glicêmico.”
Daniela enfatiza que o ser humano não possui algumas enzimas digestivas necessárias para processar o leite adequadamente. “Digerir determinadas proteínas do leite é um processo que exige muito da flora intestinal. Temos a enzima lactase, mas é uma lactase humana e não bovina. No caso do iogurte esse procedimento é um pouco menos complicado, sua digestão exige menos do intestino por ser um alimento fermentado. Uma forma de minimizar a situação é consumir laticínios em dias alternados, no máximo três vezes por semana.”
Os argumentos contrários à ingestão de laticínios esbarram no fato de esses alimentos apresentarem elevada concentração de cálcio, elemento fundamental da nutrição saudável. “Não resolve comer um alimento rico em cálcio, é preciso que esse nutriente esteja biodisponível. Ingerir não é a mesma coisa que digerir e absorver. No caso do leite e de seus derivados a absorção de cálcio varia de 30% a 40%, índice que pode chegar a 90% para o tofu. O gergelim também é excelente fonte de cálcio, assim como o feijão”, diz a nutricionista.
Além de consumir alimentos ricos em cálcio é preciso, de acordo com Daniela, controlar as perdas do nutriente pelo corpo. “Uma alimentação desequilibrada, rica em gordura e açúcares, com excesso de carne e comida industrializada, torna ácido o PH do sangue, demandando cálcio do organismo para equilibrar a acidez. O cálcio age no sistema de tamponamento, promovendo justamente o equilíbrio do PH do sangue.”
Doutor em reumatologia pela Unifesp, o médico Marcelo Pinheiro discorda da restrição ao leite proposta por alguns profissionais da saúde. “A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda ingerir 1.200 miligramas por dia de lácteos, o que equivale a cinco porções. Cada porção corresponde, por exemplo, a um copo de leite ou a um iogurte. No Brasil o consumo é muito baixo, cerca de um terço do ideal, o que nos preocupa muito porque esses alimentos são as melhores fontes de cálcio da alimentação”, avalia o médico.
Pinheiro explica que cálcio participa ativamente da formação do tecido ósseo, sendo imprescindível na infância e adolescência. “Quando não se forma esse reservatório de cálcio na juventude, uma poupança que será usada em idades mais avançadas, há mais chances de passar por algumas doenças na fase adulta, principalmente osteoporose”, avalia o médico. Ele chegou a essa conclusão após conduzir um estudo sobre osteoporose com 2.400 pessoas, recrutadas nas cinco regiões do País.
“Constatei que cerca de 15 % dos voluntários já sofreu fratura por osteoporose, o índice é alto se considerarmos que a incidência de diabete, tão comum, é de 8% no País. O pior é que as pessoas não estão preocupadas com a fragilidade dos ossos”, detalha Pinheiro. “Muito se fala sobre alergias provocadas pelo leite, mas a intolerância à lactose, por exemplo, gira em torno de 30%. O restante da população poderia se beneficiar do leite. Para casos de obesidade, recomenda-se o tipo desnatado, que tem ainda mais cálcio que o integral.”
Com base em sua investigação sobre os fatores de risco relacionados à osteoporose, Pinheiro destaca as mulheres como grupo mais suscetível. “A proporção é de três mulheres acometidas pela fratura de osteoporose para cada homem. Elas precisam ter mais cuidado no período pós-menopausa, em que a destruição óssea é comum”, diz. Segundo ele, grávidas e lactantes devem estar especialmente atentas ao consumo de laticínios. “Nessa fase, o consumo diário deve chegar a 1.500 miligramas”, indica.
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